AS MARCAS DA PERFEIÇÃO DE DEUS
EU VI SEU RASTRO NA AREIA E NO CÉU]
Certa
vez um homem que se dizia ateu, durante uma viagem ao Oriente, viu pela manhã o
árabe que conduzia a caravana ocupado em suas orações. Intencionando embaraçar
o árabe, o ateu aproximou-se e perguntou-lhe em tom de zombaria:
—
Como sabes tu que Deus existe?
O
condutor de caravanas respondeu, sem alterar o tom da voz:
—
Quando observo a areia do deserto, posso facilmente saber pelas pegadas se
passou um homem ou um animal. Igualmente, quando observo o mundo, a natureza ao
meu redor e o Céu, posso afirmar que por eles passou a mão de Deus.
Sim.
Os Céus, a Terra e a vida que há em nós proclamam a glória e a existência de
Deus. Contemplando a vastidão dos mares, a imensidão dos céus e a admirável
harmonia reinante no Universo, o homem sabe que não é o criador de tanta
grandeza, e conscientiza-se de sua pequenez e da insignificân-cia de suas
forças. Se estiver entre as pessoas que vivem na incerteza da existência do
Criador de tantas maravilhas, exclamará, repetindo as palavras do filósofo
francês Blaise Pascal: "O silêncio eterno desses espaços infinitos me
apavora!"
Porém,
se estiver entre aqueles que nasceram de novo, não segundo a carne e o sangue,
mas da água e do Espírito (João 3:5), reconhecerá a existência do Criador, e
exclamará como o autor da Carta aos Hebreus: 'Tela fé entendemos que os mundos
foram criados pela palavra de Deus, de maneira que o visível não foi feito do
que se vê" (Hebreus 11:3).
O
justo há de contemplar as belezas da Criação como mostras da formosura de seu
Criador, como espelhos de sua glória, como mensageiros que nos trazem notícias
dele, como reflexos de suas perfeições, como presentes que o Esposo envia à sua
Esposa — a Igreja — para enamorá-la, até o dia em que a tomará pela mão para
com ela celebrar aquele eterno casamento no Céu. O mundo todo parece-lhe um
livro que fala sempre de Deus, uma carta que seu amado lhe envia, um longo documento
e testemunho de seu amor. Nenhum cristão, nenhuma pessoa que já tenha sido
resgatada do pecado poderá ficar indiferente à grandiosa voz da Natureza, que
proclama a existência e a glória de Deus.
O
formosura tão antiga e tão nova — exclamou Agostinho, esse grande cristão do
passado, ao contemplar o rastro de Deus impresso na Criação — quão tarde te
conheci, e quão tarde te amei! Porventura és tu, Senhor, aquele de quem diz o
salmista que és formoso entre os filhos dos homens?... Se nesse desterro não
vejo a formosura de tua divina majestade, assim como és formoso no Céu, ao
menos pelos efeitos chego ao conhecimento da causa, e pela formosura dos Céus,
planetas, árvores, flores e variedade das mui vivas cores das coisas que tuas
divinas mãos criaram, entendo, meu Deus e Senhor, ser abismo infinito de formosura
a formosura de onde essas formosuras tiveram sua origem.3
VLTAIRE, ATEU, RECONHECE:
DEUS EXISTE!
Portanto,
a existência do Deus invisível é demonstrável pelos seus efeitos, pelas suas
obras. O próprio escritor francês Voltaire (1694-1786), apesar de ter passado
para a história como ateu e perseguidor do evangelho, escreveu certa vez em uma
de suas cartas ao imperador da Prússia, Frederico II (1712-1786): "A razão
me diz que Deus existe, mas também me diz que nunca poderemos saber quem
é."
Ora,
Voltaire era um homem que não levava em consideração o tesouro de revelação e
conhecimento que a fé pode abrir para nós; após rejeitá-la, ele procurou viver
à luz da razão, acreditando tão-somente naquilo a que sua capacidade intelectual
o conduzia. Mas, apesar de sua incredulidade, Voltaire, através do raciocínio,
chegou à seguinte conclusão, registrada no capítulo 2 de seu Tratado de
Metafísica: 'Vejo-me forçado a confessar que há um Ser que existe
necessariamente por si mesmo desde toda a eternidade, e que é origem de todos
os demais seres.' No mesmo livro, algumas páginas adiante, o famoso
"ateu" declarou: 'Todas as coisas da Natureza, desde a estrela mais
distante até um fino talo de grama, devem estar submetidos a uma Força que os
movimenta e lhes dá vida." Ora, que força é essa senão Deus?
Eis
aí um homem considerado por todos um terrível ateu, curvando sua cabeça em reconhecimento
da existência do Criador, após maravilhar-se diante de tantas e tão sublimes
provas da existência de Deus, perfeitamente visíveis na Criação!
NATUREZA: MISTÉRIO DE DEUS
Portanto,
conforme ficou demonstrado até agora, Deus tem-se revelado tanto na Natureza
como na consciência de todos os povos (a chamada consciência coletiva), e
também na consciência de cada ser humano (assunto do próximo capítulo). Ele
infundiu em nossa alma a luz interior (essa voz interior que dá, dentro de nós,
testemunho de sua existência), e em seguida ofereceu aos nossos olhos os sinais
exteriores de sua existência, sabedoria e glória: as obras de suas mãos. Tudo
quanto vemos nas criaturas de beleza, verdade, bondade e perfeição existe em
Deus em um grau muito mais alto, puro e completo, pois tudo quanto se manifesta
no efeito, deve existir necessariamente, e nos mais alto grau, na causa
produtora: Deus.
Enquanto
a formosura das criaturas é particular e limitada, a formosura de Deus é
universal e infinita, porque nele está contida toda a formosura de tudo o que
ele criou... Por mais belo que o imaginemos, Deus é mais belo ainda. Todas as
perfeições se encontram nele. Sua força é infinita, sua beleza inigualável, sua
existência é desde toda a eternidade e jamais terá fim. Ele é invisível a toda
criatura mortal, mas visível através de suas obras. "Sê exaltado, ó Deus,
acima dos céus; e em toda a terra esplenda a tua glória", disse o salmista
Davi (Salmo 108:5. ARA), e o profeta Isaías, erguendo sua voz na mesma tonalidade
de adoração, disse: "Ó Senhor dos Exércitos, Deus de Israel, que habitas
entre os querubins, só tu és o Deus de todos os reinos da terra. Tu fizeste os
céus e a terra" (Isaías 37:16).
É IMPOSSÍVEL
DEFINIR OU DESCREVÊ-LO
Portanto,
é absolutamente impossível apresentarmos uma completa e essencial definição de
Deus, pois ele, sendo perfeito e infinito, jamais poderia ser colocado dentro
dos limites de uma definição. Definir não passa de uma tentativa de limitar
aquilo que definimos, separando-o e distinguindo-o das demais coisas. Diante
disto, Deus fica sempre infinitamente além de qualquer palavra ou conjunto de
palavras empregadas com o intuito de defini-lo.
Pertence
a um famoso cristão do V século a afirmação de que as perfeições de Deus são
tão grandes e tão admiráveis que, se o mundo estivesse cheio de papel que
pudesse ser usado na preparação de livros; se todas as pessoas existentes
fossem escritores, e se toda a água dos mares se transformasse em tinta,
tornar-se-iam repletos de palavras todos os livros, se cansariam todos os
escritores e se esgotariam toda a água dos mares, e ainda assim não teria sido
explicada uma só de suas perfeições.
"Assim
como o mar é grande — declarou certa vez um admirador dos mistérios de Deus —,
não só porque todas as águas dos rios entram nele, senão também por suas
próprias águas, que são incomparavelmente muito mais abundantes, assim dizemos
que vós, Senhor, sois mar de infinita formosura, porque não só tendes em vós as
perfeições e formosuras de todas as coisas, mas também outras infinitas, que
são próprias de vossa grandeza... Só o fato de ver e gozar de tua formosura
basta para fazer bem-aventurados aqueles seres que moram junto a ti no
Céu"... "Eu fiz a terra, e criei nela o homem. As minhas mãos
estenderam os céus, e a todos os seus exércitos, dei as minhas ordens",
disse o Senhor através do profeta Isaías (45:12).
O ASTRÔNOMO
E SEU AMIGO
Conta-se
que o grande astrônomo Kirchner no seu tempo de estudante tinha um amigo que
dizia não acreditar na existência de Deus. Ora, Kirchner sabia o quanto o seu
amigo costumava apelar para a lógica dos fatos. Ambos moravam juntos.
Aproveitando-se da prolongada ausência do companheiro de estudos, Kirchner
fabricou um globo representando a Terra e o colocou em cima da mesa. Ao retornar,
o amigo do astrônomo perguntou:
—
Quem fez este globo?
__Ninguém
— respondeu Kirchner. — Havia pedaços de madeira esquadros, papel, uma esfera,
cola e pregos sobre a mesa. Eu estava distraído, procurando um livro na
estante, quando de repente vi que no lugar onde estava aquele material apareceu
este globo.
__Ah!
ah! ah! ah! — gargalhou o rapaz. — Deixe de brincadeira e diga logo quem foi
que fabricou isto, ou você acha que eu vou acreditar que o globo criou-se a si
mesmo?
—
Pois é, você está rindo diante da explicação que eu estou lhe dando, mas eu lhe
digo que é mil vezes mais fácil aceitar que esse pequeno globo tenha se criado
por vontade própria, do que acreditar que a Terra e todo o Universo criaram-se
a si mesmos e são obra do acaso. Vamos, por que você não ri também disto?
APAGUEM AS ESTRELAS!
E
impossível não reconhecer a marca de Deus impressa em tudo aquilo que ele
criou. E é impossível também apagar essa marca.
Isto
ficou provado durante um interessante episódio em 1789, em plena Revolução Francesa.
Esse acontecimento histórico de repercussão mundial tinha sido intelectualmente
preparado por políticos e filósofos inimigos do cristianismo. Durante a
revolução, pilhas de Bíblias foram queimadas, igrejas fechadas e muitos
cristãos lançados em úmidos cárceres, na tentativa de que a idéia da existência
de Deus fosse apagada no espírito do povo.
Em
uma aldeia francesa, um dos responsáveis pela perseguição religiosa disse a um
camponês que a igreja da aldeia e tudo o que fizesse lembrar Deus seriam destruídos.
-
Assim — disse o perseguidor — conseguiremos apagar os meios que levam o povo a
crer na existência de Deus.
-
Então o senhor terá que mandar apagar também as estrelas — respondeu o
camponês. 8
O SOL É UM DOS SEUS EMBAIXADORES
— Onde esta o
seu Deus? Você pode mostra-lo?— perguntou a vez o terrível imperador romano
Trajano, ao rabino Josué.
—
Meu Deus não pode ser visto, Excelência — respondeu-lhe o rabino. — Nenhum olho
humano suportaria o fulgor de sua glória. Posso, porém, mostrar à Vossa Majestade
um de seus embaixadores.
—
Onde? Onde posso vê-lo?
—
Aí fora, em vossos jardins, Majestade.
O
imperador dirigiu-se para fora do seu palácio seguido pelo rabino. O sol
brilhava esplendorosamente no céu, na força total do meio-dia.
—
Levantai os olhos para o céu e vede, Majestade. Eis aí um dos embaixadores do
meu Deus.
—
Ora, mas não posso fitá-lo. Sua luz me deixaria cego!
—
Senhor, não podeis olhar face a face uma das criações de Deus, e pretendeis ver
o próprio Criador? 9
CÍCERO
E O HOMEM DA CAVERNA
O
testemunho da Criação é por demais eloqüente, claro e visível a todos; homem
algum poderá ficar indiferente a esta voz, a este grandioso espetáculo
produzido pelas mãos do Criador. Por mais destituído de cultura ou por mais
materialista que seja o ambiente onde o ser humano vive, as provas da
existência de Deus, essas vozes que proclamam a majestade e a glória do
Criador, estarão sempre ressoando dentro do seu espírito, lá no interior de sua
consciência, e fora dela, em seus ouvidos e diante dos seus olhos.
O
conhecido orador romano Marco Túlio Cícero (106-43 a.C), para demonstrar ser
quase impossível admitir que haja pessoas descrentes na existência de Deus, fez
uso da seguinte ilustração:
Suponhamos
haja um homem que sempre tenha vivido afastado da convivência social, preso em
um lugar subterrâneo, de modo que nunca tenha podido ver nada; suponhamos que
um dia esse homem saia de sua morada subterrânea, olhe a paisagem que se
estende ao seu redor, e veja o céu pontilhado de estrelas que brilham maravilhosamente,
numa noite tranqüila de verão, enquanto a Lua difunde a sua luz suave.
Suponhamos que alguém explique a esse homem que o número de astros contemplados
pelos seus olhos nada representa diante do infinito número que seus olhos não
conseguem contemplar. Horas depois, o sol ergue-se no horizonte, inundando de
luz o firmamento...
Pois
bem, dizei-me: diante do espetáculo do Céu estrelado e da harmonia que reina
entre os astros; ao contemplar o esplendor da luz e do Sol e as maravilhas da
natureza, que pensamento nasceria na mente desse homem? Que pergunta brotaria
dos seus lábios? Tomado de espanto, esse homem não faria senão exclamar:
"O maravilha, ó grandeza! E quem fez este Céu? Quem lhe pôs estes astros,
e lhes regulou os movimentos? Quem criou este Sol e o pôs lá em cima?" E
restaria a nós responder-lhe tão-somente: "Quem fez tudo isto não foi
certamente um homem; não foram muito menos todos os homens juntos, mas sim
Deus! Só Deus poderia criar essas maravilhas de poder e sabedoria."10
NECESSIDADE DE UMA COMPLETA REVELAÇÃO DE DEUS
Diante
do que foi exposto até agora, é necessário, porém, que isto fique bem claro: a
crença coletiva demonstrada por todos os povos quanto à existência de um Deus
soberano, e o testemunho de sua existência proclamado em suas obras não se
constituem numa completa revelação de Deus ao homem. Apesar de ver as
"pegadas do Criador" impressas na Criação, não são essas maravilhas
da natureza que conduzem o ser humano aos pés do verdadeiro Deus; não são elas
que o levam a aceitar e a se incluir no plano traçado pelo Criador para salvar
suas criaturas. Por isso, além de ter-se revelado na voz da natureza e na
consciência do homem, Deus se revelou também na Bíblia, através dos profetas, e
sobretudo no seu Filho, Jesus Cristo.
O
caminho para Deus não está, portanto, nas estrelas (apesar de elas
proclamarem, em todo o Universo, sua existência), e sim no interior do homem,
na fé que nasce dentro dele e se projeta na pessoa de Jesus Cristo — autor e
consumador dessa fé. O universo fala a todos da existência de Deus, mas quem
reconduz o homem ao seu Criador é Jesus Cristo, a mais completa e perfeita
revelação de Deus à humanidade.
Conteúdo tirado de um livro